Arte por Comfreak
Vivemos numa sociedade hipócrita, que finge sentimentos e crenças que na realidade não possui.
Aquecimento global não é clichê!
O movimento que a humanidade faz em busca do desenvolvimento não engloba outras espécies. Pelo menos não no formato atual. Extração de recursos naturais, poluição do ar, poluição da água, poluição da terra, extinção de espécies, tudo isso é ação do homo sapiens.
Para contrapor esse comportamento irresponsável, existe um movimento que conta com governos, empresas, organizações e pessoas mobilizadas em buscar alternativas para um desenvolvimento sustentável.
Tá, mas será que é possível ser sustentável num mundo capitalista?
A humanidade vem se desenvolvendo baseada em suas relações / Arte por Geralt
A resposta é NÃO!
Como assim, Lucas?
Calma, vou explicar. Mas antes temos que percorrer um caminho cronológico para entender como chegamos até aqui.
Seleção Natural
Em 1859 o cientista inglês Charles Darwin publicou “Sobre a origem das espécies através da seleção natural”, a história da criação do mundo proposta por ele foi best-seller e até hoje é reconhecida como a base para a Teoria da Evolução.
Alguns aspectos dessa teoria:
a limitação na disponibilidade de recursos faz com que indivíduos de uma população disputem, direta e indiretamente, por esses recursos e pela sobrevivência;
aqueles que sobrevivem podem se reproduzir e desenvolver suas características de forma hereditária;
esse processo, chamado de seleção natural, resulta na adaptação de determinados indivíduos ao ambiente e também no surgimento de novas espécies;
a seleção natural é bastante parecida com a artificial, só que a artificial é proveniente, única e exclusivamente, da espécie humana sobre determinado organismo.
Lei da Sobrevivência
A sobrevivência do mais apto é um conceito aplicado pelo filósofo e biólogo inglês Herbert Spencer, em seu livro “Princípios da Sociologia”, que fala sobre a competição pela sobrevivência. Os seres vivos estão nessa batalha constante através das relações ecológicas, cada um em sua cadeia, concorrendo pelo alimento, pelo habitat e pela reprodução. Para isso, os organismos utilizam variadas estratégias para serem vitoriosos nessa disputa, multiplicando os seus descendentes para perpetuar a sua espécie.
Imagem por Skeeze
Nessa competição frenética, algumas espécies foram extintas e outras se tornando cada vez mais fortes. A humanidade passou por inúmeras guerras, pestes, desastres e revoluções, até dominar tecnologias que colaboram para a perpetuação de seus descendentes, mas ao mesmo tempo também vai se destruindo lentamente.
Inteligência Naturalista
Por volta do anos de 1980, na Universidade de Harvard, foi desenvolvido um estudo capitaneado pelo psicólogo norte-americano Howard Gardner que se chamava “Teoria das Inteligências Múltiplas”. Nessa teoria, os estudiosos afirmavam que a inteligência não podia ser aferida por testes de psicometria, já que possuímos distintas habilidades cognitivas.
Assim sendo, eles descreveram 9 diferentes inteligências:
Lógico matemática;
Linguística;
Musical;
Espacial;
Cinestésica-corporal;
Intrapessoal;
Interpessoal;
Existencial;
Naturalista.
A inteligência naturalista representa a sensibilidade para identificar e para organizar padrões e fenômenos da natureza. É notada nas pessoas que conseguem identificar espécies, compreender fenômenos naturais e a variedade do meio ambiente.
As principais características observadas nas pessoas que têm essa inteligência bem apurada:
têm sentimentos muito fortes por tudo o que é ligado com a natureza;
sentem-se atraídos pelo natural e possuem grande sensibilidade a fenômenos naturais;
interessam-se profundamente por assuntos relacionados com a cultura, a ciência e o meio ambiente;
sentem uma grande conexão com elementos da natureza e detectam facilmente os seus padrões;
sentem interesse pelo comportamento humano e/ou animal;
conhecem diferentes espécies da fauna e da flora;
interessam-se por ciências naturais.
Esse tipo de inteligência está diretamente ligada às atividades naturais e estar conectado com o meio ambiente. De uma certa forma, ela nos conecta com nossas origens ancestrais. Quanto mais “animalizada” a sociedade é, mais ligada com as outras espécies; quanto mais “humanizada” ela é, mais individual em relação às outras espécies.
Com o avanço da tecnologia, o ser humano tem perdido (ou desenvolvido cada vez menos) a capacidade de compreender fenômenos naturais, e com isso a consciência ambiental acaba sendo prejudicada. Por exemplo, antigamente para chegar de um lugar a outro, precisa saber qual a direção, saber se orientar no espaço e ter um meio para se deslocar. Hoje em dia eu resolvo todos esses problemas com o meu celular. Os nosso antepassados se deslocavam usando a orientação solar e lunar, pelas estrelas; eles sabiam a época do ano levando em conta o clima. Hoje resolvemos tudo isso com um mobile.
Hoje temos o mundo todo no nosso celular / Arte por Stencer
Mas a culpa não é da tecnologia, é da nossa cultura!
Cultura Capitalista
O capitalismo é uma ideologia econômica baseada na propriedade privada dos meios de produção e suas operações com fins lucrativos. As características centrais incluem, além da propriedade privada, o acúmulo de capital, o trabalho assalariado, a troca voluntária, um sistema de preços e mercados competitivos.
A evolução do sistema econômico mundial passou por diferentes formas, distintos momentos históricos, influenciada diretamente pelo comportamento da sociedade, cultural e intelectualmente. O desenvolvimento das sociedades capitalistas tem como característica as relações sociais baseadas no dinheiro, uma grande classe de trabalhadores assalariados sendo a maioria e uma classe estritamente restrita, dominante da riqueza e do poder político.
Arte por Geralt
O capitalismo é criticado por algumas pessoas, dividindo opiniões, em virtude do estabelecimento de uma classe minoritária que explora uma classe trabalhadora majoritária. Além disso, os sistemas capitalistas ao redor do mundo possuem diferentes graus de intervenção direta do governo.
Quem defende o sistema diz que a concorrência proporciona melhores produtos e serviços, gerando um crescimento econômico consistente, beneficiando a sociedade de modo geral, além de ser o sistema mais eficiente para alocação de recursos.
Cultura de Consumo
Consumo é uma atividade econômica que consiste na utilização, destruição ou aquisição de bens ou serviços. Pode ser efetuado pelas famílias, empresas ou outros agentes econômicos, tornando-se consumidores.
Consumismo é um estilo de vida orientado por uma forte propensão ao consumo de bens e serviços, de maneira geral supérfluos, para satisfação de significados simbólicos — prazer, sucesso, felicidade. O termo pode ser associado à cultura de massa e à indústria cultural. Também é descrito como uma forma aparentemente racional e confusa de comportamento econômico. Segundo o sociólogo e economista norte-americano Thorstein Veblen esse consumo desnecessário é uma forma de exibição de status.
Consumo e consumismo são coisas diferentes. No consumo as pessoas adquirem o que lhes é necessário; já o consumismo é caracterizado pelos gastos excessivos em produtos supérfluos. Um representa o ato (de consumir), e o outro o ato em excesso. O excesso do consumo pode se tornar uma compulsão, ligada ao comportamento do indivíduo.
A Black Friday é uma estratégia de consumo ou de consumismo? / Imagem por diariodocomercio.com.br
Atualmente observamos esse comportamento diretamente ligado ao modelo econômico que vivemos, o capitalismo, favorecendo a compra desenfreada em troca do desenvolvimento de mercado.
Desenvolvimento, Globalização e Tecnologia
O conceito de desenvolvimento humano tem origem no pensamento clássico, Aristóteles acreditava que alcançar a plenitude do florescimento das capacidades humanas é o sentido e fim de todo o desenvolvimento. Esse conceito é paralelamente ligado ao conceito de desenvolvimento econômico, já que ambos consideram aspectos relativos à economia, mas até onde isso é positivo para o Planeta Terra?
O desenvolvimento humano é o processo onde uma sociedade melhora a vida dos seus cidadãos pelo aumento dos bens com os quais podem satisfazer as necessidades básicas e complementares de todos.
O problema é que a linha entre as necessidades básicas e complementares é muito tênue, e com o desenvolvimento da tecnologia dificulta ainda mais a diferença, já que muitas necessidades básicas presentes eram necessidades complementares no passado.
A globalização é um processo internacional de integração econômica, social, cultural e política e tem a tecnologia como principal aliada. A revolução da informação, impulsionada pelo desenvolvimento tecnológico, mudou drasticamente a forma como a sociedade moderna se relaciona, e naturalmente, a forma dela consumir.
A globalização mudou a forma como a sociedade se relaciona e consome / Arte por Geralt
O mundo mais conectado aproxima as nações, reduz as diferenças e trabalha o senso de comunidade, na teoria. Com 7,5 bilhões de pessoas vivendo na Terra o desafio de alinhar todos os pensamentos é enorme. Com laços culturais e raízes históricas muito profundas, é muito difícil quebrar esses pensamentos.
Com base nisso tudo, eu digo que é uma utopia ser sustentável num mundo capitalista. Uma que consumir recursos é uma necessidade de sobrevivência, e naturalmente geramos um impacto por conta disso, e a outra, mais importante ainda, é que o sistema que vivemos é antigo e muito presente na história da humanidade.
Mas existe uma salvação!
“Não é necessário derrubar o sistema antigo…mas sim criar um segundo sistema no qual se pode florescer” Nelson Mandela
Revolução Ecológica
É possível usar essa força motriz humana em prol do desenvolvimento sustentável. Lutar para quebrar o modelo atual é gasto de energia em vão, não faz sentido. Mas é possível criar um movimento paralelo — consciente e sensível — que pensa em comunidade e exerce constantemente a empatia.
Na verdade isso já vem acontecendo de forma gradual e silenciosa. As novas economias apresentam uma alternativa atraente para o futuro, uma nova forma de relacionamento entre as pessoas e o meio ambiente.
A resiliência é uma das principais características da nova era, seja no mercado de trabalho, seja no cotidiano. A humanidade deve adaptar-se constantemente às mudanças que acontecem cada vez mais rápidas, e nesse processo surge a oportunidade de criar novos caminhos.
Imagem por thebalancesmb.com
A revolução ecológica é um dos personagens principais do novo mundo, impulsionada pela conectividade e pela tecnologia. Movimentos de incentivo ao consumo consciente, consumo local e atividades ligadas à preservação de recursos naturais se tornam cada vez mais presente no estilo de vida da população mundial.
Grande parte das pessoas são conscientes dos problemas globais, mas não são sensíveis à eles. Precisamos de líderes sensíveis que inspirem as grandes massas, mostrando que a mudança parte de dentro para fora. Precisamos também de uma nova mentalidade, desmistificando conceitos antiquados, rompendo as crenças que nos limitam e ressignificando o nosso estilo de vida.
Nelson Mandela / Imagem por southbankcentre.co.uk
É uma ação conjunta, que caminha unida para um futuro melhor. Agricultores trabalhando de mãos dadas com ecologistas, entendendo melhor a dinâmica das espécies, e não apenas querendo benefícios econômicos. As cidades mais inteligentes, utilizando energias renováveis e colaborando para a preservação de espécies. A fome erradicada, bem como a pobreza, com alternativas sustentáveis e ações de governos inspirando outras nações. Mobilidade urbana congruente com a geografia de cada local, integrando culturas e conectando pessoas.
Cada cidadão lidará com seus resíduos sólidos como lida com as suas redes sociais, entenderá que é um recurso e tem valor, destinando de forma correta para que outros possam se beneficiar. Definitivamente não existirão mais aterros sanitários, já que isso não faz sentido algum, e cada vez mais tecnologias ecológicas lidarão com esses processos.
É uma revolução complexa e que precisa de um esforço gigante para se obter sucesso.
O primeiro passo é a mudança de pensamento. A verdadeira mudança parte de dentro pra fora, ganhando força em cada movimento.
Em segundo lugar, multiplicando coisas boas.
Gentileza gera gentileza.
Somos os agentes da mudança, temos o papel de realizar essa transição.
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Nelson Mandela
É preciso investir em educação, pois são as pessoas que tem o poder de mudar o mundo, e somente educando elas é que conseguiremos criar um novo sistema que possa florescer e atingir o desenvolvimento sustentável.
Aí sim, poderemos, de fato, ser sustentáveis.
E você, acha que é possível ser sustentável num mundo capitalista?
Gostou do texto é quer discutir mais? Então confere as redes do @greenthinkingproject e vamos debater!
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